O Judiciário brasileiro tem se destacado não apenas pela quantidade de decisões judiciais que proferem, mas também pela crescente judicialização das questões que afligem a sociedade. De acordo com o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Frederico Mendes Júnior, o Judiciário do país é considerado o “campeão mundial” quando se trata de número de decisões e de novos processos. Essa realidade revela a confiança do povo brasileiro na magistratura, que se torna a principal instância para a resolução de conflitos. A cada dia, milhares de cidadãos recorrem ao sistema judiciário com a esperança de que seus problemas serão solucionados, o que coloca o Brasil em uma posição única no cenário global.
O papel do Judiciário, por mais que seja questionado em alguns aspectos, reflete o modelo constitucional que o Brasil adotou desde a promulgação da Constituição Federal em 1988. Com uma Constituição extensa e em constante evolução, o país vive uma crescente judicialização, onde o Judiciário é convocado para decidir questões que antes eram atribuídas ao Legislativo ou ao Executivo. Essa transição de protagonismo, que ocorreu ao longo dos séculos, culmina na centralidade do Judiciário, que hoje é visto como a principal instância para a resolução de disputas e para a defesa da democracia brasileira.
Frederico Mendes Júnior aponta que o Judiciário no Brasil não é apenas uma figura jurídica, mas uma instituição que assume uma posição de extrema importância na manutenção da democracia e no equilíbrio do Estado. Para ele, o Judiciário brasileiro é um guardião não só da Constituição, mas de valores fundamentais como a liberdade e a justiça. Cada decisão judicial tomada é, em última análise, uma ação que resguarda os direitos fundamentais dos cidadãos e a ordem democrática, mantendo o sistema de freios e contrapesos que garante o funcionamento adequado das instituições do país.
Ao longo dos anos, o Judiciário se tornou mais do que uma instância de resolução de disputas privadas. Com a judicialização crescente, ele tem se envolvido em questões de grande relevância para a sociedade, como a defesa dos direitos humanos, a questão ambiental e até mesmo os direitos sociais. Isso faz com que os tribunais não apenas resolvam litígios, mas também desempenhem um papel crucial no fortalecimento da democracia, influenciando decisões que afetam diretamente as políticas públicas e a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.
O modelo de Constituição que o Brasil adota é uma das principais razões para essa judicialização. Com uma Carta Magna complexa, que já passou por inúmeras emendas desde sua promulgação, o país acabou por criar um cenário onde os tribunais se veem frequentemente convocados a interpretar e aplicar normas que têm impacto direto no dia a dia da população. Esse processo de transformação, onde a judicialização assume um papel mais significativo, é uma tendência mundial, mas no Brasil, ela se tornou uma característica marcante, refletindo a complexidade de um sistema jurídico em constante adaptação.
Em termos de números, o Brasil é, de fato, o país com a maior quantidade de processos judiciais no mundo. Isso não significa apenas que o número de litígios é alto, mas que o sistema judiciário está cada vez mais sobrecarregado, o que coloca em evidência a necessidade de reformas. O próprio Frederico Mendes Júnior destacou em suas declarações que o volume de novos processos tem aumentado a cada ano, o que, por um lado, é uma prova da confiança da população, mas, por outro, aponta para a urgência de soluções que possam tornar o sistema mais eficiente.
Além disso, o papel da magistratura brasileira vai muito além da simples resolução de disputas. O Judiciário tem se tornado um baluarte contra os abusos de poder, defendendo não só os direitos individuais, mas também a própria ordem democrática do país. Em tempos de crise política e social, o Judiciário se apresenta como um estabilizador, garantindo que as leis sejam cumpridas e que os direitos dos cidadãos sejam protegidos. A confiança no Judiciário, portanto, não é apenas um reflexo de sua competência técnica, mas também de sua função como instituição que garante a justiça e a liberdade em um país marcado por desigualdades.
A judicialização, embora desafiadora, reflete a busca constante por justiça por parte dos cidadãos brasileiros. As questões complexas que chegam ao Judiciário exigem um sistema judicial robusto, bem estruturado e apto a lidar com a enorme demanda. A resposta a esses desafios está na contínua formação dos magistrados, no fortalecimento das instituições e, principalmente, no aprimoramento da própria estrutura judiciária. A confiança depositada pela sociedade no Judiciário é, sem dúvida, um reflexo da importância dessa instituição na construção de um Brasil mais justo e democrático, onde a justiça é não apenas um direito, mas uma realidade concreta para todos.
Autor: Vogel Huber