A sexta fase da Operação Mensageiro, deflagrada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e o Grupo Especial Anticorrupção (Geac), trouxe à tona novos desdobramentos do chamado “escândalo do lixo”. O alvo principal desta etapa foi a Empresa Saays Soluções Ambientais, sediada em Gaspar, e três de seus dirigentes, todos membros da mesma família.
As prisões realizadas nesta terça-feira, 19 de agosto, atingiram a proprietária da empresa, Schirle Scottini, sua irmã Adriana Scottini, diretora administrativa, e Arnaldo Júnior, filho de Schirle e diretor de operações. De acordo com as autoridades, os três foram detidos de forma preventiva e encaminhados ao Presídio de Blumenau, devendo participar de audiência de custódia ainda no mesmo dia.
Acusações contra a empresa e seus dirigentes
O MP-SC aponta que os dirigentes da Empresa Saays Soluções Ambientais estariam envolvidos em um esquema de corrupção que manipularia contratos de coleta, transporte e destinação de resíduos sólidos urbanos em diferentes municípios de Santa Catarina. A investigação indica que os contratos, de alto valor, teriam sido obtidos por meio de fraude em licitações, pagamento de propinas e organização criminosa.
As prisões foram decretadas porque, segundo as autoridades, havia indícios de que os acusados continuavam a praticar atos ilícitos, mesmo após fases anteriores da Operação Mensageiro já terem resultado em prisões de prefeitos, ex-prefeitos, servidores públicos e empresários.
Embora ainda não tenham sido divulgados oficialmente os municípios atendidos pela Saays, sabe-se que pelo menos três cidades catarinenses teriam firmado contratos com a companhia.
Mandados e cidades investigadas
Além das prisões, a sexta fase da operação cumpriu 36 mandados de busca e apreensão em residências, empresas e órgãos públicos de dez municípios: Gaspar, Blumenau, Rio do Sul, Imbituba, Florianópolis, Bombinhas, Laguna, Braço do Norte, Palhoça e Imaruí.

Durante as ações, foram apreendidos celulares, computadores, documentos e quantias em dinheiro, que servirão como base para reforçar as provas já obtidas e aprofundar as investigações.
Entre os alvos das buscas estiveram ainda o ex-prefeito de Braço do Norte, Roberto Marcelino (PSD), conhecido como Betinho, e o ex-prefeito de Rio do Sul, José Thomé (PSD), ambos investigados por possível participação no esquema.
Defesa dos investigados
O advogado Wilson Knöner Campos, responsável pela defesa dos três dirigentes da Saays, afirmou que seus clientes sempre colaboraram com as autoridades durante as diligências e que “não têm nada a esconder”. Ele considerou as prisões desnecessárias e prometeu entrar com pedido de revogação assim que tiver acesso completo aos autos do processo.
Segundo Campos, as justificativas apresentadas pela defesa são consistentes e contestam as premissas utilizadas pelo Judiciário para decretar as prisões preventivas. O advogado reforçou ainda que a Empresa Saays Soluções Ambientais atua dentro da legalidade e que os dirigentes não estariam envolvidos em práticas criminosas.
A amplitude da Operação Mensageiro
Deflagrada pela primeira vez em 2022, a Operação Mensageiro se consolidou como uma das maiores investigações de corrupção já realizadas em Santa Catarina, especialmente no setor de resíduos sólidos urbanos. Até agora, a operação já levou à prisão de prefeitos em exercício, ex-prefeitos, empresários e servidores públicos, revelando uma rede de influência e benefícios ilícitos que movimentava valores milionários.
Os crimes investigados incluem corrupção ativa e passiva, fraude à licitação, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa. As práticas apuradas não apenas desviaram recursos públicos, mas também comprometeram a qualidade de um serviço essencial para a população: a gestão de resíduos.
Próximos desdobramentos
Com as apreensões desta nova fase, o MP-SC e o Gaeco buscam reforçar as provas já reunidas e identificar outras ramificações do esquema. A análise de documentos, celulares e computadores apreendidos deverá indicar a extensão das práticas ilegais e apontar novos envolvidos.
As autoridades não descartam novas fases da operação, considerando a complexidade do caso e a possibilidade de que mais contratos estejam sob suspeita em diferentes regiões do estado.
A prisão dos dirigentes da Empresa Saays Soluções Ambientais coloca a companhia no centro da Operação Mensageiro e expõe a gravidade das acusações relacionadas ao escândalo do lixo em Santa Catarina. O caso ressalta a importância da transparência e da fiscalização em contratos públicos, especialmente em setores essenciais como a gestão de resíduos sólidos.
Enquanto a defesa insiste na legalidade das atividades da empresa e busca a revogação das prisões, o Ministério Público segue aprofundando a investigação, que já é considerada um marco no combate à corrupção no estado e promete novos desdobramentos nos próximos meses.
Autor: Vogel Huber